1. Achado o seu mundo
verifique
engrenagem por engrenagem
a diferença que vai desse para outro qualquer.
2. Diga
se é possível amar esse espaço
se é possível amar nesse espaço.
3. Espere a passagem de um automóvel como um mar
abra uma a uma as mil gavetas que o compõem.
Verifique depois as poses lascivas dos móveis dourados
ou do pão duro
abandonado como uma bomba
à porta do palácio.
Tente fugir.
4. Olhe a palidez dos rostos côncavos. Atraia mesmo assim a multidão.
Saque da viola para violar
e cante.
Diga-nos se ouve os gritos estridentes das sereias
que se aproximam.
Tente permanecer
e cantar.
5. Diga-nos o que é uma coisa o que é uma pessoa
o que é um gesto sonhado
o que é um animal
o que é uma coisa qualquer que ainda não tem nome
e exista.
6. Diga-nos o que é um poema
que coisa é a mão do homem que o escreve
como se chama o animal que então fala nele
como se chama o sítio onde
o homem ou o poeta
pousa os pés.
Diga-nos como se chama aí o vento
como se chama a porta
o retrato a carta o relógio
o livro ou o leito.
Que outro nome se deverá dar
aos manuscritos rasgados por si
ou aos livros queimados na praça pública.
Diga-nos depois de que lado está o mar
Cruzeiro Seixas
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