Eu defendo dizer a um morto o que nele nos trespassa,
enquanto ainda respira
Defendo a carne exposta entrecortada pelo pensamento.
O pombo esmagado cantando feliz em pluma alcatrão.
A largura dos ombros tornando-se estreita quando alguém sai.
A boca saciada, vestida em coro, quando alguém entra.
As horas que somos e em que se morre por ali adentro
Uma respiração não minha em que me ajoelhe e me faça pulmão
O vinho entornado fazendo-nos língua debaixo da mesa.
O que não existe como os grandes seios da existência
O amor que se atrasa, o amor que não quer
A mulher de cócoras mostrando ao vento o sexo incurável
A tristeza como cura para a alegria
Ouvir Schubert como túnel para um pomar
A força da gravidade como desculpa para a insensatez
O ar irrespirável como única resposta lúcida
O futuro a rebentar-nos com as omoplatas
Os bichos acéfalos e a beleza não aplicável
Defendo a carne exposta entrecortada pelo pensamento.
O pombo esmagado cantando feliz em pluma alcatrão.
A largura dos ombros tornando-se estreita quando alguém sai.
A boca saciada, vestida em coro, quando alguém entra.
As horas que somos e em que se morre por ali adentro
Uma respiração não minha em que me ajoelhe e me faça pulmão
O vinho entornado fazendo-nos língua debaixo da mesa.
O que não existe como os grandes seios da existência
O amor que se atrasa, o amor que não quer
A mulher de cócoras mostrando ao vento o sexo incurável
A tristeza como cura para a alegria
Ouvir Schubert como túnel para um pomar
A força da gravidade como desculpa para a insensatez
O ar irrespirável como única resposta lúcida
O futuro a rebentar-nos com as omoplatas
Os bichos acéfalos e a beleza não aplicável
Eu defendo que não há beleza aplicável
Defendo um miar como obra-prima
Um cacto como doçura primária
Os meus olhos saindo-me pela nuca, abraçados
Defendo um miar como obra-prima
Um cacto como doçura primária
Os meus olhos saindo-me pela nuca, abraçados
A fome numa barriga cega
Pássaros caindo a pique, azulados
Um bosque cerrado só por dedos
As cicatrizes nos dentes
Esta sala como plágio do universo
Pássaros caindo a pique, azulados
Um bosque cerrado só por dedos
As cicatrizes nos dentes
Esta sala como plágio do universo
A ervinha lenta, minguando à tona, sangrenta
Que nenhuma urina se perde
Que toda a luz se ganha
O absurdo pousado numa sobrancelha
O riso impoluto de um cardo
A mágoa como escada para a maré baixa
A maré baixa
As crateras
Os pés cortados
O nojo
Que toda a luz se ganha
O absurdo pousado numa sobrancelha
O riso impoluto de um cardo
A mágoa como escada para a maré baixa
A maré baixa
As crateras
Os pés cortados
O nojo
Eu defendo desfeita, eu defendo viva
Eu defendo o indefensável
Defendo encontrar-me em corpo sátiro,
Eu defendo o indefensável
Defendo encontrar-me em corpo sátiro,
absoluto,
dentro de um peixe.
dentro de um peixe.
Cláudia R. Sampaio
Sem comentários:
Enviar um comentário